Casarão de pedras em Ipanema se torna espaço de eventos

Casarão já foi locação de filmes do Cinema Novo e sauna gay

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As pedras da casa de dois andares localizada na Rua Redentor 64, em Ipanema, fazem parte da lembrança de antigos moradores do bairro. No passado, o imóvel foi residência do pintor, escultor e joalheiro Caio Mourão e, pela beleza do cenário — o interior tem seis vitrais de Gastão Formenti e a fachada um monumental brasão —, serviu de locação para diversos filmes durante o Cinema Novo, nos anos 1960. Transformada em point da boêmia, não foram poucas as vezes em que artistas como Vinícius de Moraes e Carlinhos Lyra cruzaram as imponentes portas de madeira para encontros regados a uísque, música e poesia.

Depois de quase duas décadas alugada, período em que abrigou uma sauna gay, a casa voltou, quatro anos atrás, a ser uma residência. Mas, pouco a pouco, vem assumindo sua vocação multiuso: como noticiou a Coluna Gente Boa, o local está se firmando como um espaço de eventos que juntam moda, arte e gastronomia. Festas de surfe e outras pequenas comemorações também têm acontecido no lugar.

IMÓVEL PROTEGIDO POR APAC

Em setembro, será a vez da 4ª edição do Casa de Pedra 64, que promete repetir a fórmula de receber novos artistas, chefs de cozinha e artesãos.

— Temos o evento de três em três meses, em média. A ideia é reunir no máximo 15 expositores, com produtos de qualidade feitos por eles mesmos. Eu pesquiso e seleciono os participantes. Na última edição, tivemos cosméticos veganos, bolsas exclusivas, exposição de fotos e, na cozinha, uma massa caseira — diz a empresária Lívia Mourão, uma das donas da casa e que, nos dias de evento, como boa anfitriã, recebe o público e percorre os ambientes dando dicas.

O cuidado com a qualidade e a quantidade de convidados tem a ver com o carinho que os proprietários — Lívia e seu irmão Diogo Mourão — têm pelo lugar. O imóvel é recheado de recordações. O enorme pinheiro que adorna o jardim da frente, por exemplo, foi plantado pela família num Natal.

Construída em 1936, a casa de 250 metros quadrados é uma das poucas que resistiram às investidas do mercado imobiliário em Ipanema. A mãe de Lívia, a artista Anna Saraiva, que faleceu ano passado, recebeu muitas ofertas, mas nunca quis vendê-la. O imóvel faz parte da Área de Proteção do Ambiente Cultural do bairro e, por isso, a família teve acompanhamento de técnicos da prefeitura quando realizou a última grande reforma, em 2013.

A fachada, as janelas e as portas foram restauradas e mantém as características originais. Já no interior, o projeto previu algumas adaptações, já que parte do prédio foi descaracterizado pelos antigos inquilinos. O piso de madeira, por exemplo, só pôde ser mantido no segundo andar da casa. É que os tacos estavam muito danificados e os proprietários optaram por restaurar o que podiam e usá-los somente nas salas de cima. A cozinha foi modificada e o banheiro do segundo andar, dividido.

— A casa foi comprada pelos meus avós, que a deram de presenta para minha mãe quando ela e meu pai de se casaram. A festa de casamento deles foi aqui. E eu tenho muita lembranças de minha infância nesta varanda e nesta rua. Meus pais saíram daqui depois que se separaram. Quando minha mãe retomou a casa em 2013, ela queria que fosse uma espécie de centro cultural — contou Lívia Mourão.

EVENTOS TEMÁTICOS

O aluguel esporádico do espaço foi a forma que os donos encontraram de custear a manutenção do imóvel. No último fim de semana, houve shows de rock e MPB. O endereço também costuma ser o endereço da Surf Stone House, comemoração do torneio de mesmo nome. Outra programação fixa da casa é a exposição de formatura das turmas do curso de joias do Ateliê Mourão. O agito convive com o serviço de aluguel por temporada, nos fundos, com diárias a partir de R$ 200.

Fonte: O Globo

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