O Jardim Botânico do Rio de Janeiro promove, nesta sexta-feira (10), às 10h, o pré-lançamento virtual do livro “A maloca entre artefatos e plantas – Guia da Coleção Rio Negro de Richard Spruce em Londres”. A publicação retrata coleções de objetos feitos com matérias-primas provenientes de plantas e animais, coletados, no século 19, na Amazônia brasileira, e que hoje se encontram guardados em coleções científicas europeias. Trata-se de coleção representativa de artefatos, reunidos há 170 anos, pelo botânico viajante inglês Richard Spruce. Além disso, apresenta aspectos históricos, ambientais, botânicos e etnográficos da região do Alto Rio Negro, no Noroeste amazônico, também do século 19. O evento faz parte das atividades da semana sobre o bioma Amazônia.
O guia é resultado das pesquisas colaborativas e interculturais que vêm sendo desenvolvidas junto a pesquisadores indígenas e não indígenas no âmbito do projeto “Repatriamento digital de coleções bioculturais: conectando os conhecimentos científicos e indígenas na Amazônia”. A publicação tem a autoria da coordenadora do projeto, professora Luciana Martins, do Birkbeck (Universidade de Londres), a pesquisadora e curadora da coleção etnobotânica do Jardim Botânico do Rio, Viviane Fonseca-Kruel, o antropólogo e coordenador do Instituto Socioambiental/Programa Rio Negro, Aloisio Cabalzar, o pesquisador indígena (Tukano), Dagoberto Lima Azevedo, os pesquisadores William Milliken e Mark Nesbitt, do Kew Gardens de Londres, e a antropóloga e curadora da coleção sobre a Amazônia do Museu Etnológico de Berlim, Andrea Scholz.
No dia seguinte, sábado (11), às 10h30, acontecerá, no Museu do Meio Ambiente do JBRJ, o pré-lançamento do jogo de tabuleiro “A´pe-buese: aprender brincando”. O jogo lúdico, inspirado no guia, aborda plantas e artefatos do Alto do Rio Negro, que contam um pouco da cultura, fauna e flora do bioma Amazônia. A atividade foi elaborada em associação com a equipe do projeto, e será realizada pelo Serviço de Educação Ambiental do JBRJ. Em seguida, será realizada uma visita à Região Amazônica do Jardim Botânico.
A publicação e o jogo são produtos das pesquisas colaborativas que o Jardim Botânico do Rio vem participando, desde 2015, em parceria com o Instituto Socioambiental (ISA), a Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (FOIRN), a Universidade de Londres, o Jardim Botânico Real de Kew Gardens, o Museu Britânico e o Museu Etnográfico de Berlim.
O projeto do livro e jogo surgiu em junho de 2019, quando pesquisadores e conhecedores indígenas visitaram Londres e Berlim, para trocar informações com pesquisadores não-indígenas sobre as coleções do Alto Rio Negro que se encontram nos acervos do Kew Gardens e Museu Etnológico de Berlim. Lá, discutiram-se as matérias-primas empregadas, técnicas de confecção e como os artefatos ainda são ou eram usados pelos especialistas locais.
Na viagem, também foi realizada uma oficina no Kews Gardens para maior conhecimento por parte da equipe indígena sobre as coleções de Richard Srupe. As coleções contêm diversos objetos, assim como amostras de herbário e manuscritos associados à região do Alto Rio Negro. Parte desses artefatos coletados por ele encontra-se também no Museu Britânico.
– Durante a oficina, conversamos sobre a importância de um banco de dados digital sobre essas coleções. Entretanto, muitas comunidades indígenas no Alto Rio Negro ainda não têm acesso à energia elétrica e internet. Assim, materiais educacionais impressos facilitariam o trabalho de professores nas escolas, a fim de despertar o interesse das novas gerações por essas coleções – conta Viviane Fonseca-Kruel.
A pesquisadora ressalta ainda que o guia tem um duplo objetivo, compartilhar as informações sobre os objetos históricos coletados por Richard Spruce e incentivar a troca de informações, além de registros de seus conhecimentos, especialmente de professores e jovens indígenas. Spruce viveu 15 anos na Amazônia, de 1849 a 1864, e coletou 14 mil amostras vegetais, cerca de 350 artefatos no Alto Rio Negro.
Para Viviane Fonseca-Kruel, o uso sustentável de recursos vegetais dentro da Floresta Amazônica é uma prioridade fundamental tanto para a subsistência humana quanto para a manutenção da biodiversidade florestal.
– Os povos indígenas do Noroeste da Amazônia praticam formas eficazes e sofisticadas de gestão da terra, mas essas práticas estão ameaçadas pela erosão do conhecimento tradicional. Informações valiosas relevantes para esse desafio estão contidas em coleções bioculturais realizadas dentro e fora do Brasil – pontua.
O ponto de partida dessas pesquisas e parcerias, de acordo com a pesquisadora, surgiu com o projeto bilateral “Mobilizando o valor das coleções bioculturais no Brasil”, entre 2015 e 2019, com financiamento do edital Institutional Skills do Fundo Newton (Conselho Britânico). Este constituiu uma primeira fase das pesquisas e colaborações com o ISA, a FOIRN, o Birkbeck e o Museu paraense Emilio Goeldi, e foi liderado, no Brasil, pelo Jardim Botânico do Rio de Janeiro, e no Reino Unido, por Kew Gardens.
A atual etapa dá continuidade às pesquisas, sob a coordenação de Luciana Martins, no projeto intitulado “Repatriamento digital de coleções bioculturais: conectando os conhecimentos científicos e indígenas na Amazônia”, com financiamento da British Academy (no edital Knowledge Frontiers: International Interdisciplinary Research 2018), contando com a colaboração da FOIRN, JBRJ, ISA/Programa Rio Negro, Kew Gardens e Museu Etnológico de Berlim.
– Os artefatos são importantes para as comunidades indígenas. Logo, têm sido fundamentais para mobilizar, tanto os próprios indígenas quanto a sociedade, sobre a importância de registrar e associar uma ampla documentação, como as línguas de diferentes etnias, cantos, crenças e saberes ancestrais, sendo um catalisador para o fortalecimento de seu patrimônio social, ambiental e cultural – conclui Viviane Fonseca-Kruel.
Serviço
– Sexta-feira (10/9), às 10h
Pré-lançamento virtual do livro “A maloca entre artefatos e plantas: guia da Coleção Rio Negro de Richard Spruce em Londres”. O evento será transmitido pelo canal do YouTube do Jardim Botânico do Rio.
– Sábado (11/9), às 10h30
Pré-lançamento do jogo de tabuleiro “A´pe-buese: aprender brincando”, no laboratório didático do Museu do Meio Ambiente, seguido de visita à Região Amazônica
Para participar dessa atividade programada para o sábado (11), é preciso fazer inscrição prévia pelo e-mail cvis@jbrj.gov.br ou tel. (21) 3874-1808.
Rua Jardim Botânico, 1008
Valor da entrada no JBRJ
Visitantes residentes na Área Metropolitana do Rio de Janeiro: R$ 15,00
Visitantes residentes no Brasil: R$ 24,00
Visitantes estrangeiros Mercosul: R$ 45,00
Visitantes estrangeiros: R$ 60,00
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