Serviços, itens de moda e gastronomia ocupam locais ainda desconhecidos
Espaço Vibre tem aulas de dança e alongamento – Guilherme Leporace
RIO — À primeira vista, Ipanema é uma garota de ainda não completos 122 anos. Para moradores e frequentadores assíduos, no entanto, esse mais de um século parece o suficiente para conhecer a região na palma da mão. Ledo engano. Galerias e imóveis aparentemente residenciais, que muito lembram esconderijos, revelam alguns segredos, genuínos e atuais, da garotinha. Dança, moda, arte, gastronomia… Ipanema sempre surpreende aos mais atentos e curiosos.
Na Rua Garcia D’Ávila 130, uma casa com portão de ferro e muro de tijolinhos pode passar despercebida aos apressados. A escadaria que leva ao terceiro andar, entretanto, desvenda o aconchego de um espaço procurado justamente por quem quer se desligar da correria do dia a dia. Em duas amplas salas, o Vibre oferece aulas de dança com mais de 20 modalidades para adultos e crianças há apenas um ano e meio. Com exceção do balé clássico, única opção da grade adulta que exige nivelamento, as atividades são livres para quem entende ou não de dança. Há também aulas de pilates e alongamento.
— O nome Vibre significa vida, bem-estar e relaxamento. Essa é a nossa proposta. Queremos que os alunos sintam prazer em atividades físicas e atinjam seus objetivos. Por isso, criamos aulas novas, para que as pessoas possam trabalhar força muscular e condicionamento aeróbico, como a HIIDance, que intercala momentos de alta intensidade com outros moderados — explica Tatiana Cunha, que é sócia do local junto com a diretora artística Luiza Continentino.
Também na Garcia D’Ávila, outra escadaria no 149 esconde mistérios da intimidade feminina. Uma pequena passagem dá lugar ao mundo de lingerie da Verve e às coleções sempre impactantes de Andrea Marques.
A Casa Guilherme Araújo tem exposição fixa de fotografias – Guilherme Leporace
Seguindo a via e virando na Redentor, outra grata surpresa. A antiga casa de Guilherme Araújo, no número 157, tornou-se há sete meses o Gabinete de Leitura que leva o nome do produtor cultural. Antes de morrer, o cocriador da Tropicália e um dos eternos reis da noite carioca doou o espaço à Funarj, autarquia vinculada à Secretaria estadual de Cultura. No gabinete, fica em cartaz permanentemente a exposição fotográfica. “Nunca fui santa”, de Tereza Eugênia, que acompanhou Araújo durante 40 anos. Uma viagem no tempo, a mostra leva os espectadores a shows e bailes de carnaval dos anos 1970 e 1980, com fotos memoráveis do produtor ao lado de Gilberto Gil, Caetano Veloso, Gal Costa e Maria Bethânia, entre outros grandes nomes da cultura brasileira. Um acervo pessoal do produtor também fica exposto na garagem.
A casa abriga ainda um curso de teatro promovido pelo Coletivo Alma Não Tem Cor, formado a partir de oficinas práticas de teatro na Rocinha e no Complexo do Alemão em 2014, que promove um ciclo de leituras dramáticas das peças de Nelson Rodrigues. Ontem, por exemplo, Thiago Lacerda e Rogéria participaram de “Viúva porém honesta”.
O Gabinete, administrado por amigos de Guilherme Araújo, tem entrada gratuita e fica aberto ao público de segunda a sexta-feira, das 11h às 18h. A ideia é também alugar o espaço para lançamentos de discos e livros, saraus de música, poesia e palestras.
MODA E GASTRONOMIA RENOVADAS
Definitivamente, são escadas que revelam a maioria dos esconderijos de Ipanema. Em pleno coração da Rua Visconde de Pirajá 371, a Galeria Secreta faz jus ao nome. Construído há 68 anos, o espaço só foi ocupado por lojistas 28 anos depois. Em 2002, recebeu o nome de Galeria Secreta e passou por tempos áureos, com marcas como Constança Basto, Domitila e Candle Design. Depois, foi esquecida e entrou em decadência. Há cerca de dois anos, a galeria foi completamente reformada pela arquiteta Gorete Colaço e hoje abriga nove lojas hypadas num clima intimista, como a aconchegante Lutsy, multimarcas com foco em vestidos e acessórios de festas, projetada para ser um quarto de vestir, e a descolada Nicobaldo, voltada para o público infantil.
Karen Richa atende com hora marcada na Self + – hermes de Paula / Agência O Globo
— A ideia era retomar a força da galeria, e a reforma só ocorreu a partir da união de todos os lojistas. Os donos estão aqui o tempo todo. Indicamos clientes uns para os outros. É como se fosse uma vila — afirma Renata Lamarco, síndica durante as obras.
Renata é dona da Lutsy junto com Ana Luiza Tiago. Para expandir o mercado além das festas, há uma semana elas lançaram o coletivo Lutsylab, que reúne cinco novas marcas cariocas (Evapore, Henriete Moreira, Krya, John Bags e MHO). A ideia é mudar os criadores pelo menos três vezes ao ano. As coleções, sempre com peças diferentes, são voltadas para a moda casual e têm grade pequena. Um verdadeiro achado.
Surpresa também é o showroom da Self+. Num prédio comercial na Visconde de Pirajá 437, com entrada lateral escondida, funciona o escritório da estilista Karen Richa e uma pequena loja com suas coleções. A maior parte da clientela descobriu o ateliê no boca a boca e, para chegar lá, só com hora marcada. As peças representambém o estilo de Karen.
— Senti que era o momento de trabalhar de forma mais expressiva; havia uma necessidade de roupas diferentes no mercado — explica.
Outro lugar que faz o cliente se sentir em casa, ou melhor, no lavabo, é a Les Savons, na Rua Visconde de Piraja 611, loja 16. Perfumes, óleos essenciais, aromas, sabonetes orgânicos e mimos são vendidos na loja. Dona da marca há 14 anos, Martha Zuim faz questão de criar a maioria das embalagens. Um lacinho aqui, uma palha ali e um pingente acolá deixam qualquer produto mais gracioso. A preocupação não para por ai. Os lançamentos também são com ela. O mais recente é o sabonete de capim-limão envolto em palha de coco e em formato de meia-lua.
Martha Zuim, dona da Les Savons, cria a maioria das embalagens – Hermes de Paula / Agência O Globo
— Eu gosto de conversar com os clientes, arrumar a loja, trazer variedades. Quando tenho uma ideia, desenvolvo-a junto com a mestre saboneteira. Renovamos produtos antigos, como o banho salto, sabonete de sal grosso que este ano foi feito com sal rosa do Himalaia — afirma Martha.
Também na Visconde de Pirajá, na galeria Palácio Astoria, no 595, uma novidade vem conquistando os amantes da culinária. A delicatessen Marchê Carolli, inaugurada há quatro meses, veio para mudar o conceito de que produto bom é o que vem do exterior. Depois de morar 12 anos nos Estados Unidos e sentir falta dos quitutes brasileiros, Maria Carolina Guarino resolveu abrir um negócio próprio onde pudesse reunir produtos nacionais de pequenos fornecedores. Queijos, geleias, doces, pipocas funcionais, cervejas e cachaças são alguns dos itens vendidas no local, que também tem cafeteria onde são servidos salgados, tapiocas, pratos executivos e um menu especial.
— Além de favorecer o mercado local, é mais ecológico comprar produtos daqui mesmo. Pensa quanto de combustível se gasta para importar um queijo da França? Temos um mel gourmet feito com floradas específicas de várias regiões — conta Maria Carolina.
Outro diferencial são os alimentos congelados pela técnica sous-vide, que embala a vácuo, preservando o sabor. Coxa e sobrecoxa de pato, costelinha e moqueca são algumas das delícias encontradas.
Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/rio/bairros/lugares-quase-secretos-de-ipanema-encantam-moradores-19159211#ixzz46x86pp4N
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