A praia de Ipanema, na fronteira com Arpoador, na zona sul do Rio de Janeiro, foi cenário de assaltos multitudinários de banhistas neste sábado. A reportagem do EL PAÍS testemunhou em menos de uma hora um jovem ferido no pescoço após ter tido seu cordão arrancado e um casal que teve o celular roubado, enquanto passeava tranquilamente pela orla. Os episódios de arrastões –ou roubos praticados por grandes grupos de assaltantes– caos e correria se repetiram durante todo o dia e a volta da praia foi encerrada com assaltos em Copacabana, Arpoador e uma enorme confusão numa padaria do bairro de Botafogo, onde cerca de 30 jovens roubaram tudo o que encontraram ao seu alcance. No local, um vendedor de frutas recebeu um disparo na perna.
A onda de arrastões – um fenômeno que surgiu nos anos 90 nas areias das praias do Rio – durante o final de semana, apesar do reforço policial, levou alguns moradores das zonas mais ricas da cidade a se trancar em casa resignados. Mas também alimentou a indignação de outros que lotaram grupos no Facebook com dicas de segurança, como sair armados com spray pimenta e guardassóis, e mensagens de frustração pela falta de policiamento e de “leis mais rígidas”. Postagens com iniciativas de patrulhamento cidadão e convites ao uso de violência contra os assaltantes começaram a aparecer dentro e fora das redes sociais.
Um vídeo amador gravado neste domingo em uma das principais ruas de Copacabana mostra como um grupo detém um ônibus e quebra uma das janelas para alcançar os passageiros. Na sequência, vários jovens derrubam a janela de emergência do outro lado para tentar fugir enquanto outros escapam pelo teto do veículo. A turma dos justiceiros, fortes e com aparente conhecimento de técnicas de luta, no entanto, consegue pegar um dos jovens sem camisa que foi espancado no meio da calçada. Uma equipe do O Globo flagrou a cena e afirmou que policiais militares impediram que os agressores consumassem o linchamentos de outros três jovens.
A “necessidade de fazer alguma coisa” manifesta-se constantemente nas páginas, cuja atividade se estende a grupos de WhatsApp. Um dos membros identificado como policial civil postou em dois grupos a seguinte mensagem: “Todos os moradores devem procurar os síndicos de seus prédios e pedir que em caso de violência contra esses marginais, se alguém atirar e matar um merda desse, não forneçam imagens das câmeras à polícia! Apaguem as imagens imediatamente! Ninguém é obrigado a fornecer as imagens! Digam que o sistema está com defeito!”. A única participante que discordou da postagem foi convidada pelo resto a adotar um bandido e a sair da página.
Um leque de depoimentos e vídeos mostra vários dos roubos que têm motivado a mobilização cidadã nas redes na cidade que será sede dos Jogos Olímpicos em menos de um ano. O grupo “Alerta de Assaltos na Zona Sul”, por exemplo, hoje com cerca de 21.300 participantes, somou mais de 1.000 membros do sábado para domingo. Em um dos vídeos, gravado no sábado de uma janela do Arpoador, uma dezena de jovens assaltam um casal que andava de bicicleta. Os dois foram agredidos e roubados.
Muitos dos moradores, participantes dos grupos, pedem a extinção de linhas de ônibus que vão da zona norte à orla, como a 474, que sai do subúrbio da cidade. Já existe, inclusive, uma página de Facebook pedindo sua abolição. A medida, de fato, vai ser tomada pela Prefeitura. No próximo verão a linha 474 (Jacaré x Jardim de Alah) não vai chegar mais até o Leblon e vai parar no centro, embora a justificativa seja a reorganização de itinerários para evitar a duplicidade de trajetos. Das 49 linhas que atravessavam a zona sul que vão ser excluídas ou encurtadas, 17 saem da zona norte e chegam às praias de Copacabana, Ipanema ou Leblon, conforme revelou a Folha de S. Paulo.
Uma das frustrações compartilhada pelos internautas é a decisão da Justiça de impedir que a Polícia Militar apreenda menores que viajam nesses ônibus provenientes dos subúrbios se não for em flagrante, como já contempla o Estatuto da Criança e do Adolescente. Só no último final de semana de agosto, os agentes apreenderam 160 menores que iam a caminho da praia sem que fosse justificado o delito que cometeram o que gerou contestações de defensores dos direitos humanos e da defensora pública Eufrásia Maria das Virgens. A determinação do juiz obriga os policiais a agirem em coordenação com a Polícia Civil, a Secretaria municipal de Desenvolvimento Social e o Conselho Tutelar para “garantir os direitos das crianças e dos adolescentes”.
“A ordem judicial se cumpre. A Polícia Militar perdeu a prerrogativa da prevenção, só pode agir depois do ocorrido. E aproximadamente 30 pessoas foram detidas até sábado à noite”, afirmou o secretário de Segurança Pública, José Mariano Beltrame. Beltrame disse que vai “trazer” órgãos responsáveis por menores para auxiliar a atuação da polícia no patrulhamento. Ele vai debater o esquema de policiamento da orla em reunião com oficiais na tarde desta segunda e anunciou a volta da abordagem em ônibus.
Fonte http://brasil.elpais.com/brasil/2015/09/21/actualidad/1442792573_902604.html
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