
Não se é manchete, mas é um dado alarmante. A cada hora no Brasil, uma pessoa se suicida, sem contar os casos que não foram notificados, de acordo com o DataSUS. No Mundo, segundo a Organização Pan-Americana de Saúde, cerca de 800 mil pessoas cometem suicídio anualmente e um número ainda maior de indivíduos tenta pôr fim à própria vida. Com este número, o Brasil ocupa a oitava posição em número de suicídios, segunda causa de morte entre adolescentes e jovens brasileiros de 15 a 29 anos. Estatísticas como estas levaram a criação do Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio, 10 de setembro.
A partir destes números, que na verdade são vidas ceifadas também pela exposição à violência, à pobreza e à desigualdade social, bullying/ciberbullying, que o ator Danilo Cairo e o Centro de Valorização da Vida (CVV) se juntam para apresentar o projeto Tem Psicoterapeuta na Plateia, que traz quatro apresentações nos dias 21, 22, 28 e 29 de setembro, às 19h, do solo O Último Capítulo, seguidos de batepapos com profissionais da saúde – psicólogos, psiquiatras, terapeutas, entre outros, que estarão na plateia para uma conversa com o público a respeito do tema principal abordado na obra – suícidio.
A ação integra o Setembro Amarelo – campanha de prevenção ao suicídio no Brasil, realizada pela Associação Brasileira de Psiquiatria e o Conselho Nacional de Medicina – e visa ampliar as possibilidades de diálogos com psicoterapeutas, esclarecimentos e aprofundamentos sobre o assunto apresentado. com o patrocínio da BahiaGás, o projeto Tem Psicoterapeuta na Plateia chega a IV edição com o mote principal “Arte em Defesa da Vida”. Os ingressos podem ser adquiridos pelo Sympla (https://linktr.ee/toca_
A cada noite irá debater temas: suicídio e espetacularização da vida na era digital; a saúde mental da população negra; resquícios da vida confinada, uma abordagem pós-pandêmica; suicídio, gênero e sexualidade; suicídios entre jovens e nas/das universidades; luto; e cuidar de si e do outro. Os temas dos bate papos estão relacionados a assuntos trazidos na obra O Último Capítulo, assim como, pautas sociais que estão em evidência.
Com a pandemia de COVID-19 houve um aumento de 25% de crises de ansiedade e depressão em todo o mundo, devido a solidão, sofrimento e morte de entes queridos, luto e preocupações financeiras. Profissionais de saúde desenvolveram a Síndrome de Burnout, devido a exaustão, sentimento de ineficácia e de falta de realização pessoal e profissional. Há um ano, foi manchete a morte do filho da cantora Walkyria, que tirou a vida após cyberbullying. Crianças e adolescentes expostos a jogos extremos, que muitas vezes levam ao suicídio e automutilação.
A psicóloga Luana Lima, que integra a terceira noite do Tem Psicoterapeuta na Plateia, ao lado da psicanalista Beta Alfaya, numa discussão sobre saúde mental de jovens, adolescentes e adultos nas relações escolares e universitárias, fala que há uma grande conexão deste projeto com a campanha de Prevenção ao Suicídio, “essa produção artística carrega, com compromisso (para além do Setembro Amarelo) e em ato, possibilidades de (re) construções sensíveis do mundo”.
“Quando falamos em prevenção de suicídio, tratamos sobretudo, da vida. A arte como produção crítica, afetiva, de denúncia, de encantamento, de ponte com o mundo e conexão com o(s) outro(s), é potencialmente, um instrumento de afirmação política das existências. O Último Capítulo carrega o ensinamento que Nina Simone nos deixou: a arte, o artista precisa refletir sobre o seu tempo”, complementa Lima, autora do livro “Deverei velar pelo Outro? Suicídio, estigma e economia dos cuidados”, diz a psicoterapeuta.
Com a pandemia e os altos índices de síndromes e doenças psicológicas que ela desencadeou, levou a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) a tornar ilimitada consultas e sessões com psicólogos e terapeutas ocupacionais. Mas, o psiquiatra Fábio Gomes defende a criação de um serviço de atendimento público nos moldes do Centro de Valorização da Vida (CVV), porém com uma qualificação médica complementar.
“Esse atendimento especializado ainda é um espaço para privilegiados. O país necessita criar uma rede pública, com interlocução. Não dá para ficar sem encaminhar para um profissional com treinamento e qualificação adequada. Nos casos mais graves, inclusive, o cidadão precisa estar em observação, num leito com acompanhamento médico. Isso é um caso de saúde pública”, pondera Lima.
SOLO
Baseado no conto “Último Capítulo”, escrito por Machado de Assis, a montagem incorpora à atmosfera tragicômica do texto um tom intimista, interativo e contemporâneo, que caminha sobre o terreno misterioso da representação do narrador Matias Deodato – um bacharel em Direito que se afirma como um grande azarado e acredita acumular na vida uma sequência de infortúnios que justificam a sua decisão.
Para isso, Mathias Deodato decide montar um espetáculo de teatro com o objetivo de encenar o seu último dia, compartilhando com o público presente (seus convidados) as histórias da sua vida e pensamentos sobre o sentido da existência, a metáfora da morte, as contradições do amor, as heranças da família, questiona o que vem a ser a felicidade e quais são os motivos que nós temos para nos mantermos vivos nos dias de hoje.
“Cansado e aborrecido, entendi que não podia achar a felicidade em parte nenhuma; fui além: acreditei que ela não existia na terra, e preparei-me desde ontem para o grande mergulho na eternidade. Será que a vida que a gente constrói não passa de um sonho? De um espetáculo?”, pergunta-se o personagem.
A partir desse enredo de passagens autobiográficas e de questões que abordam esperança, amizade, contradições, realização, sonho, vida e morte, o ator vai assumindo diversas subjetividades, interpretando na narrativa não só o Mathias, mas também outros personagens da vida do protagonista e tecendo com muito humor e emoção sua relação direta com o universo machadiano e a plateia; entrelaçando ficção, memória e realidade até a grande revelação que acontece no final do espetáculo.
O espetáculo, que estreou pela primeira vez em 2018 para comemorar os 15 anos de carreira do ator Danilo Cairo, tem direção de Kleber Sobrinho e Rui Manthur. A adaptação do texto de Machado de Assis é do próprio ator com contribuições do dramaturgo Daniel Arcades.
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SERVIÇO:
O quê – solo O Último Capítulo, em Tem Psicoterapeuta na Plateia
Quando – 21, 22, 28 e 29 de setembro, às 19h – quartas e quintas
Onde – Teatro Vila Velha
Ingressos – R$30 (inteira) e R$15 (meia) – Sympla (https://linktr.ee/toca_
PROGRAMAÇÃO DO BATE-PAPO 2022
DIA 21/09 – QUARTA-FEIRA
Convidado 01: Avimar Junior – doutor em psicologia, desenvolve pesquisas sobre o suicídio, o autoferimento de crianças, adolescentes bem como as expressões e repercussões da autodestrutividade em ambientes digitais.
Tema: Suicídio e a Espetacularização da Vida na Era Digital
Convidado 02: Valter da Mata
Tema: Suicidio: Aspectos Sociais e Saúde Mental da População Negra
DIA 22/09 – QUINTA-FEIRA
Convidada 01: Estela Ferreira – Psicanalista; Psicoterapeuta na Associação de Amigos do autista (AMA-BA)
Tema: Suicídio e Pandemia: Desafios e Resquícios de uma Vida Confinada
Convidada 02: Olívia Bustani – Psicóloga e idealizadora do projeto Filhos Fora da Caixa, Pais Fora do Armário.
Tema: Suicídio e as Questões de Gênero e Sexualidade
DIA 28/09 – QUARTA-FEIRA
Convidado 01: Beta Alfaya – Psicoterapeuta pelo Conselho Brasileiro de Psicanálise, atua na Clínica com Adolescentes
Tema: Suicídio entre Jovens: Saúde Mental e os Desafios nas Relações Escolares e Familiares
Convidada 02: Luana Lima – Psicóloga e Autora do livro “Deverei velar pelo Outro? Suicídio, estigma e economia dos cuidados”.
Tema: Suicídio nas (e das) Universidades
DIA 29/09 – QUINTA-FEIRA
Convidada 01: Tita Matos – Psicoterapeuta Sistêmica Familia e, atuação na Clínica do Luto
Tema: Suicídio e Luto: quais as perspectivas e caminhos possíveis?
Convidada 02: Pedro Sampaio – Psicanalista
Tema: Prevenção ao Suicídio: cuidar de si, cuidando dos outros
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