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‘Não chego a ser um garoto de Ipanema’, diz Cerveró a juiz da Lava-Jato

‘Não chego a ser um garoto de Ipanema’, diz Cerveró a juiz da Lava-Jato

O ex-diretor da área Internacional da Petrobras Nestor Cerveró, preso preventivamente desde 14 de janeiro deste ano, disse ao juiz Sérgio Moro, da Operação Lava-Jato, que ‘não é garoto de Ipanema’. Encarcerado por suspeita de ter recebido US$ 30 milhões em propinas, Cerveró foi interrogado nesta terça-feira, 5, na Justiça Federal em Curitiba, base das investigações da Operação Lava-Jato.

Cerveró é réu ao lado do advogado uruguaio Oscar Algorta e do lobista Fernando Antônio Falcão Soares, o Fernando Baiano – acusados por crime de lavagem de dinheiro envolvendo a compra do apartamento do ex-diretor da estatal no valor de R$ 7,5 milhões, em 2009, localizado na praia de Ipanema, no Rio.

O depoimento durou cerca de 1h15. Em determinado momento, o magistrado perguntou a Cerveró o que ele possuía de patrimônio. “O senhor bloqueou tudo, né?”, disse Cerveró.

Segundo ele, antes de ser preso, estava morando em uma casa em Itaipava, distrito da cidade de Petrópolis, na região serrana do Rio. Itaipava é uma região conhecida por suas casas de alto padrão e por ser refúgio de inverno da alta sociedade carioca.

“O que eu tenho hoje é a minha casa em Itaipava, que eu estou morando devido a essa exposição gigantesca que eu fui vítima na imprensa, na mídia, em todas essas operações”, disse. “Depois de morar 45 anos em Ipanema, porque eu praticamente nasci e me criei em Ipanema. Eu não chego a ser um garoto de Ipanema, mas morei 45 anos em Ipanema.”

Nestor Cerveró é suspeito de ter sonegado dados relevantes ao Conselho de Administração da Petrobras, sobre a aquisição da Refinaria de Pasadena, nos EUA. Em outra ação penal a que responde na Justiça Federal do Paraná, o ex-diretor é acusado formalmente por corrupção passiva e lavagem de dinheiro.

A Justiça Federal decretou, em fevereiro deste ano, o bloqueio de R$ 106 milhões do ex-diretor. O valor confiscado correspondia à conversão de US$ 40 milhões, pelo câmbio de 21 de janeiro (R$ 2,65, atingindo R$ 106 milhões), data em que o pedido da força-tarefa da Operação Lava-Jato, que investiga esquema de corrupção na estatal petrolífera, foi acolhido.

Os US$ 40 milhões correspondem a uma suposta propina repassada ao lobista Fernando Soares, o Fernando Baiano, apontado como operador financeiro do PMDB no esquema de corrupção da Petrobras, e a Cerveró.

Em petição à Justiça Federal, o lobista Julio Camargo, que denunciou o envolvimento de Cerveró na contratação de navios sonda para a Petrobras, em 2005 e em 2006, retificou para US$ 30 milhões o valor que o ex-diretor teria embolsado em propinas.

“Eu tinha essa casa que eu comprei em 2002, tinha 3 apartamentos, que eu doei para o meu filho, para a minha filha e para a minha neta, já não são meus”, declarou Cerveró na audiência. “Meu, hoje, tem a casa de Itaipava, um apartamento na (avenida) Visconde de Pirajá (em Ipanema, zona sul do Rio) lá no final, um apartamento pequeno. E tenho um apartamento em Copacabana (zona sul do Rio), onde reside minha sogra, que eu sustento minha sogra. Mas com esse parco salário que o senhor deixou na minha mão. O senhor bloqueou tudo”, afirmou.

Durante o depoimento, o ex-diretor pediu que o dinheiro fosse desbloqueado. Cerveró afirmou que nem ele e nem seus filhos ou sua mulher têm bens, dinheiro ou offshores no exterior.

“Eu estou sem receita. Eu ganhava na Petrobras, é isso que o pessoal às vezes fica assustado, meu salário na Petrobras dava mais de R$ 110 mil por mês. E eu não era o maior salário, a Graça chegava a R$ 150 mil, fora bônus, fora gratificações, isso tudo em março de 2014, eu perdi”, afirmou Cerveró.

“O meu salário hoje é a aposentadoria. Eu estou aposentado desde 2011. É uma dificuldade. Meu filho quando vai lá buscar, tem referência na Caixa Econômica, eles liberam, mas dá trabalho. De uma renda que eu tinha de R$ 120, 130 mil, hoje eu tenho uma renda que deve dar uns R$ 12 mil, R$ 15 mil.”

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