O Airbnb da comida: sites de jantares compartilhados ganham adeptos cariocas

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RIO – Na única prateleira da cozinha americana do apartamento onde mora o publicitário Mateus Esteves-Ribeiro, de 31 anos, em Ipanema, estão emparelhados mais de 20 potinhos de vidro com especiarias exóticas. Jambu, chicória do Norte, sal rosa do Himalaia, Sriracha (tipo de pimenta tailandesa), zimbro (espécie de pinha modificada), tucupi, alfavaca e páprica defumada são alguns dos ingredientes trazidos de Manaus, cidade em que nasceu e visitou na semana passada, ou comprados nas Casas Pedro.

A obsessão por potinhos e temperos tem fundamento. Além de sócio de uma empresa manauara de publicidade, a Tape, para a qual trabalha há quatro anos no Rio, em home office, Mateus se matriculou no curso de chef executivo de cozinha no Senac, na Barra. Também estudou para ser barista, no Coffee Lab, em São Paulo.

— Ele ficou tão caxias com essa coisa da gastronomia, que vive indo à Saara comprar potinhos — entrega a mulher, Camila Fernandes, de 29, que estuda estamparia.

Outro apetrecho que encomendou de um fornecedor em São Gonçalo para usar como base de suas invenções culinárias são tábuas de ardósia. É nelas que serve as refeições (entrada, prato principal e sobremesa) dos jantares que oferece em sua casa e que são agendados através do site EatWith — uma plataforma que funciona exatamente como o site de aluguel de apartamentos AirBnb. O que muda é o serviço prestado: em vez de hospedagem, são oferecidos jantares, pagos, em casa.

O site internacional no qual Mateus se inscreveu é um exemplo entre vários que já fazem sucesso no Brasil. Para se ter uma ideia, há anfitriões espalhados por São Paulo, Rio, Curitiba, Vitória, Brasília e Belo Horizonte. Entre as opções de plataformas, estão o Meal Sharing (também gringo) e o Dinneer — uma versão brasileira.

Mateus se cadastrou no EatWith em janeiro, e já perdeu a conta de quantos visitantes, incluindo turistas e cariocas, recebeu. A média, ele calcula, é de um a dois encontros por mês, com até seis convidados. Isso sem contar a Zazá (uma gata) e o Cacau (um buldogue francês), “filhos” do casal, que indiretamente participam dos jantares.

— Já recebemos chineses, mexicanos, americanos, sérvios, italianos e brasileiros — conta o anfitrião, que cobra US$ 34 pelo serviço (em dólar mesmo, pois assim manda a plataforma).

O anfitrião criou dois menus, aprovados e fotografados por uma funcionária do site no Rio. O primeiro é o “From Amazon, with love”; o outro, “The 100% brazilian arabica coffee menu”. As imagens de cada um ficam disponíveis na internet, tal qual as de cômodos de um apartamento do Airbnb.

— Ela veio aqui em casa para fotografar o jantar e me deu dicas de como servir, de como não deixar os convidados serem invasivos e também de consultá-los sobre suas intolerâncias — enumera Mateus.

“Convidada” do jantar, a gerente de loja Cris Dalto, de 39, experimentou um escondidinho folhado e um bolo de chocolate molhado com tapioca crocante na casa de Mateus. Também bebeu vinho e beliscou um mix de castanhas (bebidas alcoólicas são cobradas à parte).

— Não sou muito de peixe, então, propus que o menu amazônico fosse adaptado — comenta Cris.

Formado em Filosofia, Victor Costa, de 30, também se inscreveu numa plataforma do gênero, o Dinneer, que está presente em 38 cidades brasileiras. O que o motivou foram experiências no Airbnb, como hóspede e anfitrião.

— Me mudei há quatro meses para um apartamento maior e passei a alugar um quarto. Como gosto de cozinhar e sempre recebi pessoas em casa, resolvi arriscar — conta Victor, morador de Botafogo.

Suas especialidades são salada de maçã verde, cebola roxa, mel e mostarda, chili com feijão fradinho e torta de banana.

— Todos os pratos têm fruta. Não sou cozinheiro profissional, por isso, preparo um menu simples — justifica o filósofo, que recebeu quatro convidados no jantar das fotos desta reportagem.

Ter um diploma de um curso de culinária, de fato, não é requisito para oferecer um jantar compartilhado.

— Temos anfitriões de diversas áreas, como piloto de avião, atleta, curador de arte… A maioria tem o dom de cozinhar, mas não é chef. Brinco que são os “wannabe chefs” — conta o brasileiro Flavio Estevam, criador do Dinneer, site nacional, apesar do nome.

Entre os participantes do jantar de Victor, o neurocientista Zé Otávio Pompeu, de 39, foi acompanhado dos filhos:

— O jantar tem um clima informal. O chef senta à mesa para comer, o convidado bate papo na cozinha.

Para receber o grupo, Victor fez adaptações: colocou a mesa de jantar perto da janela e comprou dois sofás.

Autora do blog “Dcoração”, Vivianne Pontes, de 37, conta que não precisou mudar nada no seu apartamento no Cosme Velho quando se cadastrou no Meal Sharing, encorajada pelo marido, André Nogal, que é chef.

— Faz um tempo que não tenho um prato igual ao outro, nem copos e talheres. Tenho uma panela de pressão bonita, azul cintilante, que levo para a mesa, e ainda economizo na louça para lavar — brinca Vivianne.

m dos fundadores do Meal Sharing, o americano Jay Savsani cita Rio de Janeiro e São Paulo como cidades de sucesso da plataforma no Brasil:

— Os jantares compartilhados acontecem em 450 cidades. As principais são Nova York, Londres, Berlim, São Paulo e Rio. Os brasileiros se orgulham de sua comida e adoram abrir suas casas.

E se não adorarem a comida? Paciência, pois o pagamento, via site, é feito antes do jantar…

Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/ela/gastronomia/o-airbnb-da-comida-sites-de-jantares-compartilhados-ganham-adeptos-cariocas-17531234#ixzz3nBOOP8ec

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