Quem são as personalidades que dão nome às ruas de Ipanema

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Foto: Reprodução Internet

Não há como falar de Ipanema sem pensar em Vinicius de Moraes. Afinal, foi ele quem imortalizou, ao lado do igualmente notório Tom Jobim, o bairro, em música sobre uma garota e as belezas reveladas a cada rua. Ao adotar o nome do cantor, compositor e diplomata (entre tantos outros títulos), a Rua Vinicius de Moraes, antiga Montenegro, tornou-se igualmente famosa, relegando a segundo plano o conhecimento sobre outras figuras tão ou mais imponentes que também acabaram homenageadas nas vias de Ipanema.

Diferentemente dele, alguns dos figurões que têm seus nomes estampados nas placas são tão pouco conhecidos do grande público que viraram ilustres anônimos à sombra de um logradouro. Até presidente da República acabou tendo sua memória relegada…

Caso de Prudente de Morais. Ele já era presidente do Brasil (o terceiro do país e o primeiro civil) quando o bairro foi criado, em1894. Foi, assim, homenageado pelo Barão de Ipanema, que deu seu nome à então via principal do bairro. Naquela época, conta o historiador e sobrinho-neto de Vinicius de Moraes, Milton Teixeira, morar à beira-mar não tinha o prestígio dos tempos de hoje.

— Ninguém morava ou queria morar na rua da praia, que era vista como uma esteira para jogar lixo. As pessoas que ali viviam ficavam mais para dentro do bairro. Lembro sempre da história que Jorginho Guinle (socialite) contava de que as pessoas, para irem ao Copacabana Palace, usavam echarpe para se protegerem da brisa do mar, pois acreditavam que o ar marinho fazia mal à saúde — conta ele.

Assim, é possível afirmar que o glamour conquistado pela Avenida Vieira Souto ao longo dos anos, e a sua consequente valorização, tornando-a um dos metros quadrados mais nobres de toda a cidade, ironicamente, acabaram por ser um “erro” do projeto do engenheiro que justamente deu à rua seu nome de batismo. O bairro foi desenhado por Luiz Rafael Vieira Souto, líder industrialista fluminense, que também foi diretor da comissão para a construção do porto do Rio e catedrático de engenharia civil.

— Ipanema, ao contrário de outros bairros, foi projetada e passou a ser ocupada a partir do bonde, antes era tudo areal. Até a década de 1930, eram enormes as áreas sem nada construído. Hoje, raras são as casas no bairro, já que boa parte delas foi demolida para dar lugar a edifícios e condomínios — relata Teixeira.

A Praça General Osório, que tem importância vital na vida de Ipanema, foi pensada para ser ponto de encontro e chegada àquele canto da cidade. Leva o nome do General Manuel Luis Osório, herói nacional na Guerra do Paraguai e patrono da cavalaria brasileira, e atuou nas duas maiores batalhas campais da América Latina.

A mesma lógica de homenagem aos nossos militares levou a eternizar também o nome de Visconde de Pirajá em outra das principais ruas de Ipanema, chamada antes de Vinte de Novembro. Mas, sobre o visconde, as recordações não são tão honrosas.

— Joaquim Pires de Carvalho e Albuquerque, o Visconde de Pirajá, ganhou esse título por sua participação na Guerra de Independência do Brasil, em 1822. Ocorre que a vitória brasileira contra os portugueses na Batalha de Pirajá, na Bahia, só se deu graças ao corneteiro Luís Lopes, que emitiu a ordem inversa à dada pelo comandante às tropas brasileiras — explica o professor Milton Teixeira.

Ele acrescenta:

— A derrota brasileira era dada como certa e o major Barros Falcão determinou que as tropas recuassem. Mas o corneteiro, sabe-se lá por que, deu ordens para “avançar e degolar”. Os portugueses, assustados, recuaram. Foi o embate derradeiro que selou a vitória brasileira.

O ETERNO LAR DE UM POETA DA MÚSICA

“Rua Nascimento Silva, 107/ Você ensinando pra Elizeth / As canções da canção do amor demais”. A primeira estrofe de “Carta ao Tom”, composta por Vinicius, Toquinho e Tom Jobim, cuidou de eternizar um dos endereços de Tom ao longo da vida, sendo chamado de lar por ele de 1953 a1962, quando alugou o apartamento com sua primeira mulher, Tereza Hermanny. A rua, que nem de longe é a mais movimentada do bairro e que até hoje reserva certo ritmo pacato, foi capaz, inclusive, de deixar em segundo plano a personalidade a quem homenageia de fato.

Josino Nascimento Silva nasceu no ano de 1811, em Campos, formou-se em Direito e trabalhou como advogado e juiz. Após ingressar na política, tornou-se deputado geral pelo Rio de Janeiro, presidente da província de São Paulo e comendador de Cristo, também presidindo a província do Rio de Janeiro no período de abril de 1871 a outubro de 1872. E ainda assim acabou preterido no imaginário popular, passando a ser somente o nome de um endereço em que Elizeth Cardoso aprendeu a cantar as canções do álbum histórico “Canção do amor demais”(1958), de Vinicius e Tom. No endereço também nasceu outro álbum histórico, o “Chega de saudade”, de João Gilberto, além de canções para a peça “Orfeu da Conceição”.

— Dali eles seguiam para o Bar Veloso. Como já ouvi dizer, intelectual não vai à praia, vai para o bar — entoa o professor e historiador Milton Teixeira, que ainda defende o clima de Ipanema como cenário perfeito para as melodias da bossa nova. — Em 1969, o Lions Clube fez uma pesquisa no bairro e declarou que Ipanema não tinha problemas. Para quem estava aqui, era o melhor dos mundos. Imagine isso! O único medo que eles tinham era o de que a violência chegasse até lá.

Apesar das homenagens a militares, nas ruas, o bairro ainda guarda outra peculiaridade. Soube manter-se intocado durante os anos da ditadura militar, lembra Teixeira.

— Nos anos 1960, era o bairro de resistência, onde o Departamento de Ordem Política e Social, o Dops, não chegava. Afinal, era onde moraram as pessoas importantes. Na época, o periódico “Pasquim” chegou a chamar o lugar de “República dos Estados Unidos de Ipanema”, porque a realidade ali era outra. É desta época que herdou a vocação para o bairro dos barezinhos, e que mantém até hoje — garante Teixeira.

Artigo do http://oglobo.globo.com/rio/bairros/quem-sao-os-personagens-que-dao-nome-as-ruas-de-ipanema-21231012#ixzz4etZ7OEAR

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