Nossa Senhora da Paz renasce com renovação gastronômica do entorno
O GLOBO – Após quase quatro anos fechada para as obras da Linha 4 do metrô, a Praça Nossa Senhora da Paz, em Ipanema, voltou a estar 100% aberta ao público no final de maio de 2016. De lá para cá, o movimento no espaço público e nas ruas do entorno cresceu, e o comércio, que havia sido abalado pela presença dos tapumes no local, renasceu. Que o diga o circuito gastronômico dos arredores, que, desde então, renovou-se. De bar de rum, o primeiro do Brasil, no Nosso, à cozinha mediterrânea do Oia, existem hoje opções para todos os gostos.
E ainda mais está por vir: nos próximos meses, Empório Jardim e Talho Capixaba também reforçarão o time do bem servir na região, isso sem esquecer do T.T. Lab, nome provisório da casa que o chef Thomas Troisgros vai abrir em cima da unidade de sua rede de hambúrgueres, o T.T. Burger, inaugurado no início do ano. O restaurante terá capacidade para receber poucos clientes e será divulgado no boca a boca, sem muito alarde, garantem os administradores. Na prática, promete ser o segredo mais badalado da cidade tão logo abra, o que deve ocorrer até o final de 2018.
É possível dizer que os empresários estejam investindo nas ruas próximas à praça porque perceberam no ponto o potencial de ser um termômetro fidedigno das nuances capazes de agradar ao paladar carioca. Pelo menos é o que pensam Leonardo Rezende e Gustavo Gil, sócios que abriram em agosto de 2016 o Pici Trattoria, na Barão da Torre. O sucesso do estabelecimento que foi o precursor da nova fase da praça no quesito “sabores com preços aclamados pelo público” levou a dupla, em parceria com o chef Elia Schramm, a inaugurar, colado ao negócio, o restaurante grego Oia. Aberto em dezembro do ano passado, já com fila na porta, o salão lotado na hora do almoço mostra que é possível burlar a crise. Em meados de 2018, eles vão inaugurar uma nova unidade do restaurante de culinária francesa Brasserie Mimolette, no encontro entre as ruas Garcia D’Ávila e Redentor.
RIO — Como pretendem internacionalizar as marcas do grupo, o 14zero3, (não sem antes passar pelo crivo paulista, com unidades na terra da garoa), o bairro lhes dá a chance de ter o feedback de clientes com alto nível de exigência, equiparável ao que lhes será cobrado em São Paulo e nos Estados Unidos. Em Ipanema, explicam, não é possível fazer sucesso sem agregar ao que é oferecido qualidade, bom serviço e ambiente diferenciado.
— A Praça Nossa Senhora da Paz é, geograficamente, o coração de Ipanema. Fica na região central do bairro, é fácil de estacionar e de chegar de metrô. É um ponto cool, com temperatura quente, próximo à praia — analisa Schramm.
Ele acredita que o carioca está começando a se soltar na escolha dos lugares onde comer e se mostra feliz com a ideia, surgida a partir de uma viagem, de investir na culinária grega.
— A comida tem a ver com o nosso clima e oferece nuances. Existem os pratos de terra, tradicionais e pesados, e os de mar, mais servidos nas ilhas, leves e bem temperados. A comida grega está em voga, acabou virando moda e permite adaptações. Por isso, fizemos o Oia com uma pegada de Nova York, prestando sempre atenção aos detalhes que observamos em restaurantes legais em Mikonos. Da decoração às flores que vão no balde quando o cliente pede um vinho. Isso faz a diferença — conta Schramm.
Nada secundária, garante ele, foi a atenção dada aos preços cobrados por cada prato. Por isso, todos os estabelecimentos do grupo dão direito à entrada e sobremesa do dia gratuitas a cada pedido de prato principal, de segunda a sexta, entre meio-dia e 16h. Ainda é possível pedir o almoço executivo do dia pelo preço fixo de R$ 42, também com a entrada e sobremesa incluídas.
— Batemos na tecla de que para comer bem não precisa pagar caro. Percebemos que o público está mais seletivo. Hoje, ele dá tanta atenção ao lado direito do cardápio, onde ficam os preços, quanto ao esquerdo, com a composição de cada prato — diz Schramm.
A casa, como já acontece no Pici, não cobra a rolha. Ou seja, o cliente não é “punido” por levar ao lugar um vinho de sua preferência. A opção por ser wine friendly foi tomada com a consciência de quem quer ver sempre o salão cheio.
— Não queremos que os nossos restaurantes sejam aqueles em que a pessoa só vai em uma ocasião especial, a cada seis meses ou um ano. Queremos que seja viável ao cliente vir três, quatro vezes por semana. Vendemos comida para o dia a dia com uma boa experiência — explica Leonardo Rezende.
Nem por isso a estada nos estabelecimentos ganha caráter ordinário. Os atendentes são treinados para conhecer cada cliente pelo nome, deixando-os à vontade e oferecendo ainda uma boa coquetelaria.
— O Pici nasceu da minha experiência fazendo comida italiana em casa, ouvindo jazz e tomando um drinque. Não queríamos fazer um restaurante careta. Eu sentia falta de um lugar na cidade que fizesse uma comida afetiva, temperada e de fácil entendimento com uma vivência contemporânea — relata Rezende, que tem ali uma das cartas de vinhos mais baratas do Rio.
Graças ao mix de possibilidades, a clientela também se mostra eclética.
— Por conta da profissão, geralmente almoçamos e jantamos fora. Somos muito criteriosos. Nós montamos os restaurantes pensando nas mulheres, que são mais detalhistas, e com isso percebemos que acabamos criando espaços que são convidativos para todo mundo — acredita Gustavo Gil.
Happy hour para todos os paladares
Dono de ponto na Rua Maria Quitéria, em frente à Praça Nossa Senhora da Paz, Rodrigo Vasconcellos resolveu usar o imóvel para tirar do papel a vontade de fazer um bar/restaurante reconhecido pela qualidade da coquetelaria e também da comida, mas sem ser presunçoso. Foi assim que, através da indicação de amigos, ele e a mulher, Daniela Vasconcellos, acabaram conhecendo o mixologista Tai Barbin e o chef Bruno Katz. No meio do sonho em conjunto nasceu o Nosso, em abril do ano passado.
— Podíamos alugar (o ponto) para uma empresa ou um banco. Mas eu me senti atraído pela ideia de oferecer algo bacana ao bairro — relembra Vasconcellos, que não mede elogios à dupla Barbin e Katz.
Katz, oriundo da escola francesa de culinária, mas de família argentina, explica como pensou o cardápio do local que tem, como o campeão de vendas, o ovo 63°, que vem com musseline de baroa, crumble de queijo, cogumelos e azeite de trufas brancas.
— A ideia foi se moldando ao longo desse um ano de existência. Desde o começo a vontade era servir uma comida despretensiosa, mas com técnica. Um contemporâneo sem mimimi, um restaurante onde que pode se beber bem e também um bar que dê a opção da boa comida. Afinal, por que uma coisa tem que excluir a outra? — indaga Katz.
Da comunhão de conceitos, Barbin incorporou a proposta de fazer um bar de rum.
— Eu nunca gostei de fazer o que todo mundo faz, sempre quis fazer diferente, e o rum é uma bebida muito versátil, mas pouco explorada. No Nosso, entendemos essa flexibilidade do rum. Afinal, a matéria-prima é a mesma da cachaça — argumenta ele, que conta 36 rótulos da bebida na carta.
A troca mútua de conceitos entre o bar e a cozinha faz com que o local ofereça uma experiência num clima descontraído, ideal para happy hour.
— O cliente tem aqui a possibilidade de chamar um e outro e pedir a melhor sugestão para harmonizar com seu pedido. Nós incentivamos isso. Nossa proposta é ser informal, oferecer qualidade de forma despretensiosa — diz Vasconcellos.
Lado a lado, praticidade e sofisticação
André Meisler e o chef Thomas Troisgros escolheram a esquina das ruas Barão da Torre e Maria Quitéria para abrir a loja conceito da rede de hambúrgueres da dupla. A sétima unidade do T.T. Burger é a maior de todas e fica no primeiro andar do imóvel, inaugurado em fevereiro. O estabelecimento chama a atenção pelos vidros abaulados e pela iluminação, deixando à mostra todo o passo a passo da preparação dos pedidos. Mas o prédio não se limitará a isso.
O segundo andar do local, que abrigava a Forum, hospedará um mercadinho da grife, em que será possível adquirir ingredientes utilizados ali para fazer o próprio sanduíche, além de dez torneiras de chope.
— Teremos os molhos, a carne congelada, a batata vendida no restaurante, tudo para que o cliente possa pegar e levar a experiência do T.T. Burger para casa — explica Meisler, CEO da marca, que se mostra igualmente empolgado com a novidade planejada para o terceiro piso.
Ali será o espaço para Thomas Troisgros brincar com os ingredientes dos hambúrgueres, oferecendo alta gastronomia em contato direto com os clientes durante o preparo. Ele vai fazer todos os pratos de dentro de uma ilha, no próprio salão, circundado pelos olhos do público. Não à toa, o primeiro nome pensado para batizar o restaurante, que terá acesso por elevador, foi T.T. Lab, em referência ao próprio espaço, pensado com um laboratório da mente de Troisgros.
No entanto, garante Meisler, a divulgação do novo restaurante não será ostensiva. Afinal, o local terá capacidade para apenas 30 clientes por vez. Eles só poderão entrar mediante distribuição de senhas e com horário marcado.
— As negociações para abrirmos a loja duraram cerca de um ano e meio. Estávamos buscando um ponto nobre, e entendemos que este seria perfeito. Sempre acreditamos no potencial de Ipanema — afirma Meisler, cuja expectativa é a de vender cerca de oito mil a dez mil sanduíches por mês no local.
Para isso, a marca incrementou o cardápio com um lançamento que promete ajudar a conquistar novos clientes e fidelizar ainda mais os antigos. O TTdoispontozero leva pão de batata, aioli apimentado de cúrcuma, alface romana, relish de maçã verde, blend TT, mozarela brasileira e bacon. Mas os ingredientes não são o único chamariz da nova loja.
— Aqui também temos a figura do encantador, disponível em outras lojas. Um funcionário cuja missão é fazer amizade na loja, conversar com o cliente — conta ele.
Bem perto, também na Rua Maria Quitéria, Ipanema contará com a abertura de nova unidade do Empório Jardim. As sócias Branca Lee, Iona Rothstein e Paula Prandini abrirão a terceira loja da marca com o mesmo ambiente contemporâneo e acolhedor que se tornou a marca do estabelecimento.
— Escolhemos Ipanema porque achamos um dos bairros mais charmosos, que mais têm a cara do Rio. A revitalização da Praça Nossa Senhora da Paz nos animou também pela quantidade de casas bacanas que estavam abrindo por lá. Sempre achamos que o Empório Jardim tinha a cara do bairro, e as pessoas pediam que nós fôssemos para lá. Estamos muito felizes de fazer parte desse movimento — comenta Branca.
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